Será que você deve (ou não) dizer ‘obrigado’ e ‘bom dia’ às ferramentas de inteligência artificial?

Saiba se adotar boas maneiras com a Inteligência Artificial faz alguma diferença no uso da tecnologia.

Seja por felicidade ao receber a resposta esperada ou mesmo por costume de agradecer ou dar bom dia às pessoas, há muitos relatos de usuários de ferramentas de Inteligência Artificial que acabam cumprimentando a tecnologia pelos serviços prestados.

Outros simplesmente ignoram a máquina, afinal ela é que é programada para agir de forma educada com os usuários. Diante desse cenário, será que vale a pena ou não ser gentil com uma Inteligência Artificial?

Um conceito chamado de “educação para mídia”, desenvolvido por Byron Reeves e Clifford Nass nos anos 90, sugere que, muitas vezes sem perceber, as pessoas interagem com sistemas tecnológicos como se fossem seres humanos. É o famoso dar boa noite para a televisão ao término do jornal, por exemplo. Nesse sentido, os pesquisadores realizaram uma série de experimentos e obtiveram resultados bem variados.

Em um dos casos, os participantes trabalhavam em um computador e depois precisavam avaliar o desempenho. O fato curioso é que, quando a avaliação era feita no computador em que trabalharam, as notas eram mais positivas. Ou seja, era como se os humanos não quisessem falar mal das máquinas se elas estivessem presentes.

Já em outro experimento, um computador elogiou pessoas por executarem bem uma tarefa. Na hora da avaliação, esses participantes deram uma nota maior para a máquina que tinha sido simpática com o grupo, mesmo sabendo que os elogios eram programados.

De lá para cá, surgiram diversos estudos e todos eles demonstram que, se por um lado os humanos tendem a antropomorfizar as máquinas, por outro, quando um sistema tecnológico imita qualidades humanas, como é o caso da gentileza ou cortesia, os usuários percebem um melhor desempenho naquela máquina.

Ética e utilidade

Um estudo recente focou a discussão nas interações de seres humanos com as assistentes de voz Siri e Alexa, por terem voz e nomes femininos. Em seguida, o debate foi ampliado para novos modelos de linguagem, como é o caso do ChatGPT, Gemini e Claude. Não se pode ignorar que este tipo de debate engloba duas áreas fundamentais: a ética e a prática.

Isso porque, ao observarmos se é ou não apropriado ter atitudes educadas com um sistema, estamos considerando que a tecnologia é um sujeito moral. Outro ponto a analisar é se a cortesia no tratamento influencia a eficiência operacional. O primeiro questionamento está intimamente ligado à discussão ética sobre o estatuto moral dos animais e sobre como se deve agir com eles.

A diferença é que há um abismo biológico e cognitivo entre os animais e as máquinas. Até porque os animais possuem sistemas nervosos que podem causar dor e prazer, podendo ser afetados positivamente ou não pela atitude de um terceiro. Já as máquinas não apresentam capacidades biológicas ou emocionais.

Diante deste cenário, Enrique Dans, professor de Inovação e Tecnologia da IE Business School, afirma que não é contra ser gentil com uma máquina. No entanto, é preciso ter total noção de que a tecnologia não consegue compreender, nem mesmo valorizar, a gratidão expressa.

Já os que defendem que a gentileza deve ser obrigatória usam, com frequência, o argumento de que as futuras gerações de Inteligência Artificial poderiam atingir níveis de complexidade que se aproximariam de algum tipo de consciência ou emoções.

De maneira prática, vale lembrar que cada interação com a máquina gera um sistema complexo de processamentos de dados que resultarão em uma resposta e, portanto, quanto mais clara e direta for essa interação, melhor.

“Tentar tratar um algoritmo educadamente é antropomorfizá-lo, e antropomorfizar um algoritmo é inapropriado. As máquinas precisam de clareza, da definição de um objetivo e da imposição de restrições. Expressões como por favor e obrigado agregam informações supérfluas, consumindo recursos computacionais desnecessariamente”, completa o pesquisador.

*Com informações de O Globo

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