Esquema obscuro de cambistas esgota ingressos de shows e produtos
A ação de cambistas revolta os fãs de grandes artistas pop como Taylor Swift, RBD e The Weeknd, que realizam shows no Brasil em 2023.
Os fãs de Taylor Swift no Brasil sofreram ameaças de violência de cambistas enquanto esperavam na fila para comprar ingressos para os próximos shows da “Eras Tour” da cantora no país .
De acordo com vários meios de comunicação, os cambistas tentaram repetidamente furar a fila dos ingressos vendidos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Alguns fãs foram ameaçados com armas, inclusive porretes de metal.
Outros fãs também registraram cambistas pagando idosos para comprarem os ingressos para eles. Além disso, houve registro de cambistas se passando por pessoas com deficiência para obter acesso preferencial na fila do ingresso.
A polícia foi repetidamente chamada aos dois locais, mas ofereceu pouca assistência, segundo O Globo. Os fãs de Swift decidiram protestar sobre o assunto lançando a hashtag “T4F QUEREMOS RESPEITO”, dirigida à empresa responsável pela venda dos ingressos.
Junto com shows no México e na Argentina, a próxima visita de Taylor Swift ao Brasil marca as primeiras datas internacionais da “The Eras Tour”. Também marca a primeira vez que a cantora faz shows no Brasil desde 2012.
O esquema obscuro dos cambistas
os ingressos esgotaram rápido? ah sim, existia uma empresa cobrando 237 reais para “facilitar” a posição na fila da the eras (BOT) pic.twitter.com/XsLy6CsBnE
— Jean 🧣 (@socialistaylor) June 12, 2023
A ação de cambistas revolta os fãs de grandes artistas pop como Taylor Swift, RBD e The Weeknd, que realizam shows no Brasil em 2023. Os fãs denunciam esquemas obscuros de compra em sites de compras de ingresso e até mesmo em filas presenciais. O que poucos sabem é que a prática já se tornou um verdadeiro mercado coordenado por tecnologia de ponta e grande estrutura física.
O cambismo é uma prática milenar realizada por agentes e comerciantes. Eles compram ingressos para eventos e produtos de alta demanda e os revendem com lucro considerável. No entanto, hoje em dia, o cambismo se mudou principalmente para o ambiente online. Milhões de consumidores compram produtos e serviços diariamente, e as transações são concluídas rapidamente.
Os cambistas atuais usam bots sofisticados conhecidos como “All-in-one”, que são vendidos online. Esses bots são programados para escanear regularmente e-commerces, bilheterias e outros sites e aplicativos. O objetivo é encontrar e comprar rapidamente grandes quantidades de produtos desejados, como marcas específicas de tênis e consoles de jogos.
Eles fazem isso antes que os consumidores comuns tenham a chance de fazer suas compras. Os produtos são então rapidamente vendidos em sites como Via Gogo, eBay, OLX, Mercado Livre e outros portais que atendem ao mercado secundário.
Ação dos cambistas
Os cambistas implantam bots para visitar regularmente os portais populares de comércio eletrônico em intervalos frequentes. Eles verificam se há lançamentos de produtos altamente esperados. Além disso, os cambistas criam contas de usuário em lojas online usando várias identidades, endereços IP, cartões de pagamento e endereços de entrega diferentes. Em suma, o objetivo é escapar dos sistemas de detecção de fraude.
Muitos lançamentos de produtos são anunciados antes da data de lançamento e os bots aumentam suas visitas em antecipação a isso. Assim que os produtos são disponibilizados para compra, os bots dos cambistas invadem e compram o máximo de itens possíveis usando as contas de usuário previamente criadas.
Além disso, o esquema conta com ajuda de cúmplices online, como os “CAPTCHA Farms”. Essas “fazendas” são equipes de trabalhadores terceirizados especializados em resolver medidas anti-bot em tempo real.
O cambismo é ilegal no Brasil e configura crime contra a economia popular. Ele fere as leis brasileiras mas nem sempre é processado pelas autoridades legais. Isso acontece devido à dificuldade de determinar as identidades dos cambistas devido ao anonimato oferecido pela Internet.
Além de ingressos
No ano passado, durante o início da pandemia de Covid, foi relatado que cambistas compraram grandes estoques de produtos essenciais que de repente entraram em alta demanda, como máscaras faciais, desinfetantes para as mãos e também sistemas de entretenimento, como o PlayStation 5 e placas gráficas de alto desempenho da Nvidia.
Existem diferentes tipos de ataques realizados pelos cambistas. Eles sempre são os primeiros a comprar produtos e ganhar com a oferta limitada, e a tecnologia dos bots tornou mais fácil para eles encontrarem esses itens assim que são lançados.
Eles os compram rapidamente antes que o consumidor médio tenha a chance de acessar o portal de vendas online e, em seguida, os revendem por qualquer preço que os compradores estejam dispostos a pagar.
Medidas
Muitos vendedores online tomam medidas para mitigar o cambismo. Entre as ações estão exigir a retirada presencial de ingressos e produtos e limites no número de itens que os compradores podem adicionar aos carrinhos de compras.
Essas medidas podem incluir a exigência de prova de identificação, resolução de CAPTCHAs, emissão de tokens que dão prioridade a clientes existentes ou inscritos em programas de fidelidade, entre outras. Infelizmente, nenhuma dessas abordagens é escalável para grandes portais de comércio eletrônico e venda de ingressos, pois os cambistas geralmente encontram maneiras de contornar essas práticas de mitigação.
Atualmente, os bots de cambistas estão facilmente disponíveis para venda online, e alguns desenvolvedores de bots sofisticados até oferecem atendimento ao cliente e serviços terceirizados de resolução de CAPTCHA para permitir que seus usuários obtenham o benefício máximo deles.
Se uma empresa tentar impedir bots usando vias tradicionais, como bloqueio de endereços IP ou regiões e data centers específicos, os operadores de bots logo começarão a usar dispositivos residenciais sequestrados e proxies para passarem despercebidos.